terça-feira, 26 de outubro de 2010

Pelo fim do bloqueio econômico a Cuba


Por Guilherme de Oliveira*

No dia 25 de outubro ocorreu, na Assembléia Legislativa de Porto Alegre, um ato de apoio a Cuba. Dentre os mais de 50 presentes estavam o Conselheiro e Vice-chefe da Embaixada cubana no Brasil, Alexis Bandrich Vega. Também estavam presentes os deputados estaduais Raul Carrion (PCdoB) e Raul Pont (PT), a vereadora Fernanda Melchionna (PSOL) e demais representações de apoio ao povo cubano.
O motivo do ato é a discussão, na terça-feira (26), na Assembléia Geral das Nações Unidas, sobre o projeto de resolução pelo fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América a Cuba. Em 2009, dos 192 estados membros, 187 votaram contra o bloqueio e decidiram a favor de Cuba. Três votaram pela manutenção do bloqueio e dois se abstiveram.
Em média, o bloqueio econômico custou e custa a Cuba, em um cálculo que para alguns é até otimista, 751 bilhões 363 milhões de dólares. É o principal obstáculo ao desenvolvimento econômico e social cubano. ‘’Não é certo que digam que o socialismo realiza uma má administração, mas sim que o bloqueio prejudica o desenvolvimento do nosso país.’’, afirma Alexis.
O bloqueio não afeta só a Cuba ou aos Estados Unidos, o bloqueio afeta a terceiros países, suas empresas e pessoas. Cuba não pode exportar e nem importar produtos norte-americanos, não pode usar dólares nas transações internacionais ou para usar em contas em outros países. Cuba não tem acesso a créditos em bancos e filiais norte-americanos, no Banco Mundial, no Fundo Monetário Internacional e nem no Banco Internacional de Desenvolvimento. Cuba não pode comercializar com filiais de empresas norte-americanas, inclusive no Brasil e não pode importar produtos que tenham 10% de componentes norte-americanos. Os Estados Unidos ameaçam e sancionam qualquer empresário que queira comercializar com Cuba. Se um barco estrangeiro entrar na ilha, carregar produtos ou cidadãos cubanos ele ficará seis meses sem poder comercializar com os EUA. Existem diversas restrições comerciais para o cidadão norte-americano em relação a Cuba, se ele viaja para a ilha, ele só pode gastar diariamente até 159 dólares. Como exemplo das restrições, Alexis citou o caso de um norte-americano que comprou charutos cubanos pela Internet e recebeu uma multa de 154 mil dólares.
O bloqueio continua sendo o mais largo, cruel e injusto sistema de sanções que se conhece na história da humanidade. Bloqueio que tem como objetivo extinguir com o socialismo no mundo, que fez com que Cuba perdesse 80% de espaço no comércio exterior. Bloqueio que se mantém mesmo que Cuba, em 2008, tenha sido vitima de três furacões que causaram perdas milionárias na economia cubana e de uma crise econômica mundial que afeta também à ilha.
O bloqueio também consiste em uma guerra psicológica, de subversão que se dá pela propaganda contra a ilha caribenha. Cuba esta no Haiti há 11 anos desenvolvendo um trabalho de solidariedade através dos médicos formados na Escola Latino Americana de Medicina situada em Havana. Isso não é noticia, é noticia a greve de fome de um delinqüente. Semanalmente são transmitidas duas mil horas de programação subversiva contra a ilha, saídas dos Estados Unidos. São utilizadas 34 freqüências de ondas curtas e médias AM e FM, 19 estações de rádio e televisão para transmitir uma programação que incita a desestabilização e a violência contra o governo cubano. Somente rádio e televisão gastaram em 2010 cerca de 30 milhões de dólares para produzir materiais contra Cuba.
O bloqueio é contrário a Carta das Nações Unidas, atenta aos direitos da paz, ao direito de desenvolvimento e a segurança de um Estado soberano. É uma agressão unilateral porque Cuba não agride os Estados Unidos. Para acabar com o bloqueio o governo norte-americano exige mudanças internas em Cuba e isso é um ato contra a soberania do país.
Os Estados Unidos alegam que Cuba atenta contra os direitos humanos e que na ilha não há democracia.
A UNICEF acaba de declarar que Cuba é vanguarda na América Latina nos cuidados das crianças. Com 43% da Câmara de deputados e mais de 60% da força técnica profissional composta por mulheres, o Fórum econômico mundial declarou que Cuba é o país da América Latina que melhor defende a igualdade de gênero. Cuba tem cumprido quase todos os objetivos do milênio, já erradicou a desnutrição infantil e o analfabetismo e assegura para 2015 cumprir todos os objetivos, apesar do bloqueio.
A revolução cubana não é perfeita, mas é uma das revoluções mais justas, progressistas e nobres que existe no mundo e se não pode fazer mais foi por conta do bloqueio e não por culpa das pessoas que administram a revolução. Fidel Castro afirma que Cuba não é um modelo porque não conseguiu fazer o que queria fazer, conseguiu fazer o que as condições permitiram fazer.
Sobre a continuidade da luta e da defesa do socialismo, Alexis Vega afirma que ‘’Cuba segue lutando, porque estamos convencidos do que estamos fazendo, porque somos revolucionários, porque acreditamos que a felicidade não está em consumir, em comprar, em ter a casa cheia de alimentos. De que vale uma loja cheia de brinquedos se tem crianças na rua pedindo dinheiro, descalças, sem sapatos? Se há pessoas dormindo na rua? Podem estar seguros que o capitalismo não volta a Cuba! .’’.
Para Alexis, a herança história e a crença em uma humanidade mais justa garantem o apoio internacional pelo fim do bloqueio. ‘’Cuba guerreou em Angola na década de 70. Mais de 50 mil cubanos lutaram e ajudaram a libertar o país africano, derrotaram o apartheid e o que ganharam? Nada, os mortos cubanos. Cuba guerreou na Etiópia, Argélia, Nicarágua, El Salvador e o que ganhou? Cuba não levou nenhuma onça de ouro, de marfim, não levou petróleo. Cuba fortaleceu a dignidade e a soberania desses países. Fortaleceu o que há de mais importante que é o amor e o respeito ao próximo. Quando os africanos levantam a mão defendendo Cuba nas Nações Unidas, em Genebra, contra as acusações que alegam que Cuba viola os direitos humanos, estão levantando as mãos pelos mortos cubanos que sacrificaram suas vidas guerreando nesses países. Estão levantando a mão em defesa da solidariedade, da dignidade e da soberania. Estão provando que o mundo não tem dono e que mais global que o capital é o amor ao próximo.’’, afirmou Vega.

*Estudante de jornalismo (PUCRS) e militante socialista.

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